ENTREGADOR
DE MARMITAS
Geraldo
Hasse
Revista
Globo
Rural
Foi de pequenino que se torceu o pepino. Romildo Sant’Anna tinha dez anos quando
começou a se envolver com diversas tarefas, como carregar marmita para os peões
de obra. Sua disposição para o trabalho
e obstinação vêm da infância, na periferia de Rio Preto. Partiu para o teatro, foi ator, dirigiu peças
e filmes. E, assim, com um pé no
trabalho, outro na arte, moldou uma rica personalidade de trabalhador
intelectual.
Fiel às origens, fez do universo popular o tema de seus estudos na
universidade, onde leciona há muitos anos.
A música lhe abriu as portas para investigar as origens da viola; o
gosto pela poesia deu-lhe o ímpeto para pesquisar as nuanças da arte da gente
humilde das roças e subúrbios. Deu no
que deu. Firmou-se um baita estudioso da
cultura e poesia do povo.
No passado, como jornalista, ator e diretor, foi censurado e
perseguido. Bravo, professor! Além de orientar mestrados e doutorados,
gastou as horas escrevendo um livro sobre a mais popular das músicas. Este ‘ensaio do cantar caipira’ é o mais
profundo estudo já realizado sobre a moda de viola. Que prato!
O entregador de marmitas foi lá atrás, nas origens ibéricas, para
demonstrar como se moldou o universo caipira, impregnado de saberes associados
às coisas da natureza. Este é um livro
que não se empresta; é para ler, guardar e consultar de vez em quando, como
certos clássicos da língua portuguesa.
Artigo do jornalista Geral Hasse, para a revista Globo Rural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário